“Depois dos 50, a gente pode t-u-d-o.”
A frase não é minha, justifica. “É de uma amiga que após superar a depressão da morte do marido, está convencida de que depois dos 50 t-u-d-o é permitido”.
Já, a minha entrevistada não é tão liberada assim. Simpatiza com a idéia, mas defende que há limites, não se permitiria fazer esse t-u-d-o enfatizado pela amiga se implicasse em magoar alguém. “Não se pode ser tão radical assim”. Dentro do contexto da nossa conversa, prossegui no assunto e, mesmo sabendo a resposta, perguntei se ela era muito paquerada. “Claro, muito e até por uns moços lá no clube”, conta de forma despachada, rindo um pouco da própria graça e do desinteresse pelo fato. Remenda-se e justifica-se de que faz bem para o ego, mas sem muita convicção do que diz.. Faz uso da frase clichê para não revelar seu mais puro descaso. Estar casada há cerca de 30 anos e ser avó não tem qualquer relação de causa x efeito. Ela está de bem consigo própria. Sua ótima forma e sorriso sempre presente não deixam dúvidas. Por isso, se eu fosse um desses moços do clube, também não deixaria de notá-la.
A mulher envelhece melhor que o homem, discursa. Ainda que sua teoria não seja comprovada cientificamente, para ela os homens tornam-se dependentes com o passar da idade, não fazem nada sem solicitar um favor. Já a mulher sabe viver sozinha, não enche o saco, é menos ansiosa e por isso mais interessante, inclusive para os homens mais novos. “Menopausa é ótimo!” Homem velho é um horror! Fica ranzinza e logo casa para ter alguém. A mulher, mais livre, e claro romântica, namora. Mas há mulheres e mulheres. As da minha geração, dividem-se por aquelas que trabalham e as que não trabalham. As da época da minha mãe só se dedicavam aos maridos. Eu como sempre trabalhei, tenho o meu dinheiro que, por sinal, é muito importante nessa fase da vida, faz toda a diferença”.
O adjetivo Exuberante qualifica-se melhor como substantivo, no seu caso. A palavra traduz seu estado de espírito. Na atual fase, sente-se livre, liberta. Quer curtir a vida, estar em harmonia com corpo e mente. Por isso, não há espaço para depressão, o que a diferencia de muitas das suas amigas, lamenta ela. “Sou prática. Depressão, pra quê? Não entendo... não tenho tempo para isso.”.
Com relação a passagem do tempo, “levo numa boa...A gente envelhece, não tem como mudar essa situação terrível, então que seja da melhor forma possível.
Descomplicada, especialmente depois que abandonou o despertador da sua vida, encontra-se disponível todos os dias para jogar tênis, estar na companhia dos amigos nos fins de semana em Monte Verde ao redor dos prazeres da boa mesa, fazer trilhas de moto, caminhar com Scott e Baileys, seus cães, fazer qualquer viagem e, de preferência, para a praia, “nasci em Santos, a-d-o-ro praia.
Um dos seus sonhos, aliás, é convencer o marido a vender a pousada que possuem e viajar pelo mundo. A compra da pousada em Monte Verde também já foi um sonho, mas depois de oito anos tendo que se dirigir aos Alpes brasileiros, somado aos mais de vinte anos que já freqüenta o lugar, ela cansou. Ultimamente permanece o menor tempo possível em Monte Verde, adora a agitação de São Paulo e seus cinemas. Sua casa, onde diz que só come e dorme, está localizada no meio do caminho entre o clube e a casa do seu primeiro neto, João, de um ano. Tendo as manhãs livres, as tardes reservadas para a prática diária de esportes, a vida social do clube Pinheiros, só lhe cabe dedicar o tempo que sobra aos cuidados com o neto e assim realizar-se com o que chama de seu “spa semanal”. E merecido, ressalta, já que trabalhou árdua e duramente por quinze anos na área de informática, tendo a própria empresa e depois a empresa de paisagismo, dando conta dos seus três filhos: Fernanda, 35, que herdou seu “bonvivanismo”, Dudu, 33, a quem delegou sua faceta empreendedora e Juliana, 30,receptora do seu gene para esportes. Por ela, não faria mais nada. “Envelhecer não é problema!"
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