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Tuesday, October 14, 2008

- Pega ladrão!

O choque foi tanto que mal consegui gritar para ser socorrida. Fiquei esbaforida, com a voz presa, as pernas fincadas no chão imóveis até que aquela sensação estática que assaltou meus sentidos passasse.

Só assim consegui gritar : “Pega ladrão, ele roubou meu coração!” Nem pegou meu celular, meu nome, apenas meu olhar trocado no sinal de trânsito. De forma virtual, sem intercâmbio de computador, conversas de um chat, eu o conheci de forma instântanea, da melhor forma possível. Conversamos horas a fio pela troca de sinais. Foi o seu olhar, seu sorriso que se infiltraram em mim em questão de segundos.

Eu na faixa de pedestres e ele num carro qualquer, sem cor, sem placa, parando no sinal amarelo.Na minha frente havia o Masp e atrás de mim o parque do Trianon. Sabia que estava na Avenida Paulista, só isso. estava numa cidade grande em busca de minha realização profissional, no coração econômico da grande megalópole, com tantas promessas. Mas, ganhei um desejo, o sonho de um amor em transe. Quando deu sinal vermelho, meu coração estacionou ali, sem pressa. Com o sinal verde eu o perderia, meu coração junto com ele. Isso não poderia acontecer tão rápido. Num flash, imaginei a cidade toda congestionada, apitos ensurdecedores de guardas de trânsito e buzinas de toda sorte me pressionando para caminhar e deixar a vida correr. Nunca desejei tanto que o trânsito da cidade fosse insuportável, como todo paulista esbraveja. Não, eu devia impedir o tráfego livre, devia pedir por mais um momento de caos na cidade naquele sinal. Dei meus primeiros passos, com a garganta seca, a meia boca, pisando no asfalto quente entre listas brancas e pretas como se aquilo fosse a trilha para o caminho certo, obedeci o comando do sinal verde de forma totalmente involuntária. E, comigo, seguiam muitos, cheios de pressa para não perder a chance de atravessar. Eu só queria ficar atravessando aquele trecho, de uma calçada a outra o dia todo, todo o dia. Lá era a minha passarela, uma oportunidade para me exibir para ele. Em meio a tantos carros, porque ele parou bem na minha frente? Era só o meu primeiro dia na grande metrópole e tudo isso já havia acontecido numa rapidez tão desconhecida. Alguém disse,” Vai, vai menina, corre, anda”. Pisquei e meu passo já me distancia metros, kilometros, dele. Me perdi entre tantas pessoas na Avenida. O coração me deu uma pausa. “Ei, garota quer uma carona? “ Olhei para trás, vi que ouvi demais. Ele assim como os demais carros estava parado, no mesmo lugar. Então, olhei pela última vez e marcamos novamente ali, sem dizermos nada. Ele sorriu e seguiu, seguimos.

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