No espaço reservado para os dois, o espaço propositadamente era cada vez menor. A respiração dela se espreitava dentro do peito toda vez que ele se aproximava. Não era a primeira vez que isso acontecia, claro que não...Tratava-se de mais uma das investidas, ambos sabiam.
Todo esse frisson contaminava de forma furtiva a todos que se aninhavam naquela atmosfera. Desavisados, alguns riam, outros cochichavam e o clima de paquera contaminava e se acomodava por ali, não só sob o meu olhar.
No banco de trás, jovens do Vidigal, a garota de Ipanema, um vendedor de biscoito Globo, torcedores do Mengo, turistas do Marina e o próprio gerente do hotel com seu laptop, todos sem bateria, dividiam democraticamente seus lugares nessa história. Todos se divertiam com o zigue- zague conduzido pela orla pelo "Ôh piloto, pega leve aí!" E, meu olhar marejado não desviava do que acontecia bem ali na minha frente, no banco da frente de uma Kombi.
O cenário entre a Vieira Souto e Atlântica era pura ilusão aos meus olhos paulistanos, a história do flerte entre o motorista e sua passageira era a mesma que a minha com a cidade, enredo já batido, mas cheio de surpresas, com um elenco de primeira, sem protagonistas determinados, sem muitos planos de vida para aquela trajetória, todos conhecidos estrangeiros entre si. O chiado do sotaque de cada um fazia parte de um funk mal sintonizado no meu dial.